Por Joan Garriga
No seio familiar há factos que magoam, debilitam, envergonham ou ferem e às vezes o sistema tenta proteger-se deles através do silêncio, relegando-os ao esquecimento; sem ter em conta que os silêncios têm consequências e obstam à força e à saúde do grupo, frequentemente comportando implicações e sacrifícios.
É preciso integrar aquilo que magoou ou devastou, para que isso perca o seu poder e possa permanecer no passado. Todos vivemos não apenas na nossa individualidade, mas vinculados a redes – especialmente a familiar, ainda que existam outras – que nos influenciam e até nos governam, ainda que não as compreendamos. Nessas redes, o amor por si só não garante o bem-estar, o amor não é suficiente, ele necessita de ordem. O amor unido a essa ordem é aquilo que designamos por bom amor.
O bom amor reconhece-se porque nos conduz ao bem-estar, à vida, ao benefício e à realização. O bom amor pressupõe que já evoluímos emocionalmente no sentido de respeitar e assentir ao que já se passou, aos dons e às feridas dos que nos precederam, em vez de nos enredarmos nestas últimas, repetindo-as ou mostrando aos nossos antepassados uma fidelidade mal compreendida através da nossa infelicidade. Assim, pois, o bom amor permite-nos avançar um pouco, no sentido de mais vida, tanto em termos de bem-estar como de felicidade.
Um claro objectivo das constelações familiares é o de ordenar o amor, plasmá-lo numa boa geometria das relações humanas, que inclua todos sem excepção, igualmente dignos de respeito e de consideração, cada um no lugar vincular que lhe corresponde e nutrindo-se reciprocamente, de maneira que possam crescer em vez de sofrer. Esse é o bom amor que se estimula nas constelações familiares.
Joan Garriga (2020). Bailando Juntos. La cara oculta del amor en la pareja y en la familia. Ediciones Destino
Tradução do castelhano de Eva Jacinto
Imagem: Benedetto Cristofani