Bert Hellinger com Gabrielle Ten Hovel em Acknowledging What Is: Conversations With Bert Hellinger
GtH: A nossa relação com a morte caracteriza-se, geralmente, pelo medo.
BH: Sim, muito. Isso deve-se ao facto de a vida ser vista em termos isolados, como uma pertença pessoal – algo que se possui e se usa tanto quanto possível. Mas eu posso olhar para ela pelo outro lado: que eu pertenço à vida ou a uma força que me traz à vida e me sustenta e depois me deixa cair de novo. Esta forma de ver as coisas parece-me ser mais próxima da realidade. Aquele que se experiencia a si próprio como parte de um todo maior, experiencia uma energia sustentadora, apesar de ser uma energia que pode também trazer sofrimento. Não é a nossa felicidade que faz o mundo girar. É algo de muito diferente, é algo que nos chama ao seu serviço e nós temos de nos render. No final do nosso tempo, saímos da vida e voltamos a algo sobre o qual nada sabemos.
Nós não aparecemos de repente do nada. A vida que recebemos através dos nossos pais está inserida em algo maior. Algo flui pelos nossos pais e passa a vida até chegar a nós. De algum modo já estamos presentes, ou então não poderíamos tornar-nos. Quando morremos, não vamos embora, apesar de já não sermos visíveis para os vivos. Mas desaparecer? Como podemos desaparecer?
O ser, a profundidade por detrás de tudo, está para além da vida. Comparada com o ser, a vida é pequena e temporária.
Deste ponto de vista, uma criança que morre jovem não perdeu nada. Lamentamos a morte de uma criança que morreu cedo e pesarosamente mencionamos o avozinho que viveu até aos 90. Bem, quando o avô morre, qual é a diferença entre ele e uma criança que viveu apenas um dia? Ambos caem no ser que está para além do nosso entendimento, já não existe diferença entre eles.
Rilke sugeriu que se lamentamos aqueles que morreram jovens, em vez de os deixarmos ir, tornamos as coisas difíceis para eles. O que nos ajuda a deixá-los ir é o sabermos que nós também iremos. Eu uso uma frase em terapia que traz solidariedade para com os mortos, de modo a podermos aceitar a nossa vida sem um sentimento de superioridade. A frase é: “Tu estás morto. Eu viverei um pouco mais e depois também irei”. Assim os mortos são mantidos à vista e a vida não é elevada a algo de extraordinário em comparação com a morte.
A vida não é nem melhor nem pior, é apenas o que está disponível para mim durante um tempo. Mas tenho a certeza de que o todo em que tudo participa está além da vida.
Bert Hellinger e Gabrielle Ten Hovel (1999). Acknowledging What Is: Conversations With Bert Hellinger. Zeig Tucker & Co. USA
Traduzido do Inglês por Eva Jacinto
Imagem: Edvard Munch, “By the Deathbed, Fever” (1893)
GtH: A nossa relação com a morte caracteriza-se, geralmente, pelo medo.
BH: Sim, muito. Isso deve-se ao facto de a vida ser vista em termos isolados, como uma pertença pessoal – algo que se possui e se usa tanto quanto possível. Mas eu posso olhar para ela pelo outro lado: que eu pertenço à vida ou a uma força que me traz à vida e me sustenta e depois me deixa cair de novo. Esta forma de ver as coisas parece-me ser mais próxima da realidade. Aquele que se experiencia a si próprio como parte de um todo maior, experiencia uma energia sustentadora, apesar de ser uma energia que pode também trazer sofrimento. Não é a nossa felicidade que faz o mundo girar. É algo de muito diferente, é algo que nos chama ao seu serviço e nós temos de nos render. No final do nosso tempo, saímos da vida e voltamos a algo sobre o qual nada sabemos.
Nós não aparecemos de repente do nada. A vida que recebemos através dos nossos pais está inserida em algo maior. Algo flui pelos nossos pais e passa a vida até chegar a nós. De algum modo já estamos presentes, ou então não poderíamos tornar-nos. Quando morremos, não vamos embora, apesar de já não sermos visíveis para os vivos. Mas desaparecer? Como podemos desaparecer?
O ser, a profundidade por detrás de tudo, está para além da vida. Comparada com o ser, a vida é pequena e temporária.
Deste ponto de vista, uma criança que morre jovem não perdeu nada. Lamentamos a morte de uma criança que morreu cedo e pesarosamente mencionamos o avozinho que viveu até aos 90. Bem, quando o avô morre, qual é a diferença entre ele e uma criança que viveu apenas um dia? Ambos caem no ser que está para além do nosso entendimento, já não existe diferença entre eles.
Rilke sugeriu que se lamentamos aqueles que morreram jovens, em vez de os deixarmos ir, tornamos as coisas difíceis para eles. O que nos ajuda a deixá-los ir é o sabermos que nós também iremos. Eu uso uma frase em terapia que traz solidariedade para com os mortos, de modo a podermos aceitar a nossa vida sem um sentimento de superioridade. A frase é: “Tu estás morto. Eu viverei um pouco mais e depois também irei”. Assim os mortos são mantidos à vista e a vida não é elevada a algo de extraordinário em comparação com a morte.
A vida não é nem melhor nem pior, é apenas o que está disponível para mim durante um tempo. Mas tenho a certeza de que o todo em que tudo participa está além da vida.
Bert Hellinger e Gabrielle Ten Hovel (1999). Acknowledging What Is: Conversations With Bert Hellinger. Zeig Tucker & Co. USA
Traduzido do Inglês por Eva Jacinto
Imagem: Edvard Munch, “By the Deathbed, Fever” (1893)