PARA QUÊ, ENTÃO, O CASAL?
Por Joan Garriga*
Qual é então o sentido do casal? Por que razão somos impulsionados para ele? O que é que é possível viver, dar, esperar e obter da relação de casal?
Como já expliquei, uma das necessidades mais profundas dos seres humanos é a necessidade de pertencer, de estar em contacto, de sentir-se amorosamente unido com outras pessoas. Somos impulsionados para a relação de casal em primeira instância porque somos mamíferos e necessitamos do toque, do calor; porque somos seres vinculares, empáticos, amorosos, generosos e ao mesmo tempo necessitados. De sorte que vivemos habitualmente num estado de carência, de falta, ao mesmo tempo que de abundância e grandeza, albergamos o desejo e a esperança de dar e receber e de encontrar através do outro um caminho de companhia e um aconchego existencial que nos nutra.
Se fossemos crocodilos, répteis de sangue frio, as nossas necessidades seriam outras, mas para um mamífero não há maior necessidade do que a de fazer parte de um colectivo e estar em contacto com outras pessoas. Ainda que talvez nada nos falte sob uma perspectiva espiritual, no plano das paixões humanas há algo que tem de ser acalmado, liberado ou preenchido: necessitamos encontrar a plenitude nas nossas relações e acalmar a nossa sede de dar e receber amor. Isto permite-nos transcender o eu: passar ao nós, à união.
Joan Garriga In El Buen Amor en la Pareja (2013). Ediciones Destino.
Tradução do espanhol por Eva Jacinto