Há 8 dias atrás terminávamos a formação de 50 horas “Bonecos como ferramenta em terapia e aconselhamento”, conduzida por Anna Ferre Giménez no Porto.
Participantes muito satisfeitos, formadora e organizadora felizes! Um sucesso! Muitos factores concorreram para tal.
À mestria de Anna Ferre aliou-se um grupo que se revelou um bom e maduro contentor das histórias e dos estados emocionais que assomaram nos trabalhos que foram sendo realizados aos longos de 4 meses. Sem esquecer os decisivos intervenientes bonecos Playmobil, por quem todos ficaram apaixonados (não é exagero!).
A utilidade e vantagem desta ferramenta, face a outras técnicas comummente usadas em psicoterapia e aconselhamento reside no dinamismo e rapidez com que nos leva a material emocional menos acessível ou não imediatamente acessível ao cliente. Em parte isso deriva de o diálogo não se limitar ao uso da linguagem verbal, já que inclui o processamento de imagens visuais e a evocação simbólica. Acrescentando-se recursos de comunicação, ampliam-se as possibilidades de entendimento.






Os bonecos são facilitadores da projecção. Dir-se-ia que os bonecos se disponibilizam para acomodar as nossas projecções, em possibilidades infinitas. É por isso que os bonecos encantam. Deixemo-nos levar por eles ao reino dos nossos lugares de sombra, muita informação sensível é trazida à superfície.
Sabemos que tomar consciência não é condição suficiente para a transformação. Saber, estar consciente constitui o imprescindível primeiro passo. Os bonecos também ajudam nessa difícil tarefa de expressar e atravessar a dor. Com delicadeza. Eles ajudam o terapeuta a levantar hipóteses que com sensibilidade vai comprovando com o cliente, até que ele possa estender um olhar compassivo sobre si mesmo, rumo a uma libertação, com compreensão ampliada, com amor.
Tão importante quanto as aprendizagens que neste curso se fizeram, é o privilégio de poder ser testemunha da transformação do outro – vantagens das formações simultaneamente teóricas e prático-vivenciais.
Tomar consciência, tocar a dor para a poder expressar e incluir – processos profundos de transmutação que frequentemente significam o fim de uma luta.
Como diz R. Holloway* no livro On Forgiveness: “Deixar ir não não tem por objectivo esquecer ou perdoar o passado, tem que ver com libertar a energia do passado para nos trazer de volta às nossas vidas no presente, condição necessária para que nos entreguemos a um novo futuro”.
Que saibamos parar de repetir e abraçar o novo!
Eva Jacinto, 03.12.2023
*Holloway, R. (2002). On Forgiveness. Canongate Books Ltd. Edinburgh, Scotland.